Minas Gerais discute expansão de escolas cívico-militares em mais de 700 unidades

Minas Gerais discute expansão de escolas cívico-militares em mais de 700 unidades
Foto: (Agência Brasil/Arquivo)

A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) iniciou um processo de consulta em toda a rede estadual para saber se diretores, professores, alunos e famílias desejam aderir ao Programa das Escolas Cívico-Militares. A mobilização vai até 18 de julho e abrange instituições em diversas cidades, incluindo quatro escolas da cidade de São Gotardo: EE Coronel Hermenegildo Ladeira, EE São Pio X, EE Coronel Oscar Prados e EE Conselheiro Afonso Pena.

A proposta, que prevê gestão compartilhada entre educadores e profissionais da Polícia Militar ou Corpo de Bombeiros, é apresentada pelo governo estadual como forma de reforçar valores de disciplina, responsabilidade e cooperação dentro do ambiente escolar. Segundo dados da própria SEE/MG, escolas que já atuam nesse modelo registraram queda na evasão escolar e avanços em índices de aprovação.

Mesmo assim, a possível ampliação do programa divide opiniões. Na região de São Gotardo, pais, alunos e professores ouvidos pela reportagem do Descubra demonstraram visões bastante diferentes sobre o tema.

Para alguns moradores, a presença de militares poderia contribuir para melhorar o ambiente escolar. “Tem aluno que só respeita autoridade quando vê farda. Talvez assim tenha mais ordem e menos bagunça em sala de aula”, opinou um pai de aluno. Outra moradora acrescentou: “A disciplina pode até ajudar, mas é preciso lembrar que educação de verdade vem de casa.”

Alguns pais defendem inclusive que as escolas deveriam ser separadas entre meninos e meninas, pois, segundo eles, “muitos jovens vão para namorar e não para estudar”. Na visão desse grupo, o controle mais rígido poderia ajudar a manter o foco no aprendizado.

Por outro lado, há quem questione se a mudança trará impactos reais na formação individual dos estudantes. Um professor de uma escola estadual da região, que preferiu não se identificar, resumiu: “De nada adianta ter um ensino mais rígido se dentro de casa os pais não educam, não acompanham, não cobram. A base é a família, a escola só complementa. Nenhum militar vai ensinar o que cabe aos pais.”

A opinião também encontra eco no posicionamento oficial do Sind-UTE/MG (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais), que se manifesta contrário ao modelo. Para o sindicato, a iniciativa “não dialoga com as reais necessidades da comunidade escolar” e desvia o foco de questões importantes como a valorização de profissionais, concursos públicos regulares e formação continuada.

Para que a adesão seja efetivada, cada escola deve realizar assembleias com participação de toda a comunidade escolar, registrando votos a favor ou contra. Após o prazo, a SEE/MG vai analisar os resultados para decidir em quais unidades o modelo poderá ser implantado. Assim, ainda não há definição sobre quantas escolas de fato adotarão o formato.

Enquanto isso, o debate deve permanecer vivo nos corredores escolares e em grupos de pais, refletindo uma questão central: qual o papel da escola — e qual o da família — na construção de uma educação que forma cidadãos conscientes, críticos e preparados para o futuro.

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