Paul Krugman consolidou-se como um dos economistas mais influentes do mundo, reconhecido por sua atuação acadêmica, premiada com o Nobel de Economia, e por sua presença constante nos debates públicos sobre política econômica e social. Professor da City University de Nova York e colunista do The New York Times, Krugman é amplamente identificado com uma visão de esquerda e tornou-se referência ao confrontar abertamente o neoliberalismo e as políticas de austeridade fiscal.
Sua formação keynesiana sustenta a defesa da intervenção governamental como ferramenta essencial para evitar recessões e promover uma sociedade mais justa. Para Krugman, confiar exclusivamente no mercado leva a distorções e amplia desigualdades. Ele argumenta que o estado de bem-estar social é indispensável para garantir equidade e oportunidades, além de funcionar como instrumento de estabilização econômica.
Ao longo dos anos, Krugman manteve uma posição firme contra políticas econômicas conservadoras e populistas. Em uma de suas críticas mais contundentes, publicada em artigo no The New York Times na noite de quarta-feira (9), sob o título “Programa de Proteção a Ditadores de Trump”, Krugman classificou como “maligna e megalomaníaca” a decisão do presidente Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre exportações brasileiras.
O economista afirmou que Trump utiliza tarifas com fins políticos e denunciou a tentativa de manipulação do comércio internacional para interferir em decisões políticas de outros países. “Repare que Trump mal finge ter uma justificativa econômica para essa ação. Tudo isso tem a ver com punir o Brasil por colocar Jair Bolsonaro em julgamento”, escreveu. Krugman destacou que os Estados Unidos já haviam recorrido à política tarifária com objetivos políticos no passado, mas considerou o episódio mais um sinal preocupante de retrocesso. “Agora, Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro aspirante a ditador”, declarou.
Ele reforçou a ideia de que as exportações brasileiras para os Estados Unidos representavam menos de 2% do PIB do Brasil, e ironizou a tentativa de Trump de intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes. “Trump realmente imagina que pode usar tarifas para intimidar uma nação enorme — que nem sequer depende muito do mercado americano — a abandonar a democracia?”, questionou. Para Krugman, a decisão seria “motivo suficiente” para o impeachment do presidente republicano. “Estamos vendo mais um passo terrível na espiral de decadência do nosso país”, concluiu.
Krugman também se destacou por sua defesa de pautas progressistas além da economia, como direitos civis, igualdade de gênero e combate às mudanças climáticas, reforçando seu distanciamento das agendas conservadoras. Sua atuação pública é marcada pela crítica constante ao uso político de ferramentas econômicas e pela insistência na necessidade de políticas inclusivas.
Eu estava errado sobre inflação, reconheceu Krugman em 2022
Mesmo com trajetória consolidada e reconhecimento internacional, Krugman não se furta a reconhecer equívocos. Em 21 de julho de 2022, publicou o artigo “I was wrong about inflation”, no The New York Times, no qual admitiu ter subestimado os riscos inflacionários do American Rescue Plan — o plano de estímulo econômico de Joe Biden, que previa a injeção de US$ 1,9 trilhão na economia norte-americana para mitigar os impactos da pandemia.
Ele recordou que, no início de 2021, economistas se dividiram em dois grupos: o Team Inflation, preocupado com o risco inflacionário, e o Team Relaxed, no qual Krugman se posicionou, ao considerar que não havia razões significativas para temer um surto inflacionário. A divisão não era ideológica, já que as principais vozes do debate compartilhavam uma visão keynesiana e de centro-esquerda. A divergência residia na magnitude dos possíveis efeitos do plano.
Krugman apoiou sua posição em evidências históricas, como o período pós-crise financeira de 2008, quando estímulos substanciais não geraram inflação elevada. Contudo, a realidade contrariou as previsões. A inflação disparou, mesmo sem o superaquecimento econômico esperado e com taxas de emprego abaixo dos níveis pré-pandemia. Ele atribuiu parte do erro à incapacidade de prever as disrupções associadas à pandemia da Covid-19, que afetaram cadeias produtivas e alteraram padrões de consumo.
Reconhecendo a falha, Krugman escreveu: “The Team Inflation was right for the wrong reasons, but it’s also arguably true”. Ele concluiu que a principal lição do episódio foi a da humildade, ressaltando que modelos preditivos, por mais sólidos que sejam, podem falhar diante de eventos sem precedentes. Segundo o economista, momentos únicos, como pandemias, exigem cautela redobrada na formulação de políticas públicas.
Sua trajetória segue marcada por coerência e disposição para rever posições, mantendo-se como uma das vozes mais influentes nos debates econômicos e sociais contemporâneos.
Contribuição: Rodolfo de Souza, Jornalista / Editor-chefe do 100PORCENTOAGRO