O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, expressou preocupação com a segurança das instalações nucleares do Irã após os bombardeios realizados por Israel na última sexta-feira (13). O ataque teve como alvo a central de enriquecimento de urânio de Natanz, considerada uma das principais do programa nuclear iraniano.
Durante reunião extraordinária da agência em Viena, nesta segunda-feira (16), Grossi afirmou que a segurança nuclear foi comprometida. “Pela segunda vez em três anos, estamos testemunhando um conflito dramático entre dois Estados-membros da AIEA, no qual instalações nucleares estão sendo atacadas”, declarou, comparando a situação à guerra entre Rússia e Ucrânia, que também colocou uma usina nuclear em risco.
O ataque causou danos a um componente localizado na superfície da instalação de Natanz. Segundo Grossi, as estruturas subterrâneas, onde estão as centrífugas de enriquecimento de urânio, não foram afetadas. No entanto, ele alertou que uma queda de energia no local pode ter comprometido o funcionamento das centrífugas. “Não houve danos adicionais na usina de enriquecimento de combustível de Natanz desde o ataque de sexta-feira”, afirmou.
A declaração da AIEA contradiz informações divulgadas por autoridades de Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chegou a afirmar que a instalação havia sido “destruída”. Já uma fonte de segurança israelense, em condição de anonimato, disse ao jornal Haaretz que os danos também teriam atingido os compartimentos subterrâneos.
Apesar dos danos, a AIEA informou que não houve aumento nos níveis de radiação na região, o que indica que não há vazamento externo. Mesmo assim, Grossi alertou para riscos de exposição interna a materiais radiológicos e químicos, o que representa perigo para os trabalhadores que atuam na central.
Além de Natanz, outras instalações nucleares do Irã, como a usina de Bushehr e a central de Fordow, não foram atingidas. Natanz, localizada a cerca de 220 km de Teerã, é uma das principais do país, operando com urânio enriquecido a até 60%, percentual bem acima do necessário para fins civis, embora inferior aos 90% exigidos para armas nucleares.
A preocupação da AIEA com o programa nuclear do Irã não é recente. Um relatório publicado em maio de 2024 já apontava que o país possuía 408,6 kg de urânio enriquecido a 60%, sendo 133,8 kg produzidos apenas no último trimestre. Em março de 2023, a agência havia detectado partículas com pureza de até 83,7%, o que gerou novo alerta internacional.
Israel classificou os bombardeios como um “ataque preventivo” para impedir supostos avanços do Irã na produção de armamento nuclear. Após os primeiros relatos sobre os ataques, Grossi voltou a pedir contenção e ressaltou que instalações nucleares “nunca devem ser atacadas”.
O episódio levou 11 países — entre eles Rússia, China, Paquistão, Iraque, Nicarágua, Venezuela e Cuba — a assinarem uma declaração conjunta na AIEA condenando ataques contra instalações nucleares de uso pacífico. Segundo o documento, essas ações violam a Carta das Nações Unidas, o direito internacional e o estatuto da agência.
Diante do cenário, Rafael Grossi reforçou que a AIEA continuará monitorando a situação e ofereceu apoio técnico ao Irã. “A agência não ficará de braços cruzados durante esse conflito”, afirmou.