EUA cortam ajuda contra o HIV e acendem alerta global; Brasil resiste, mas pode ser afetado

  • Início
  • Saúde
  • EUA cortam ajuda contra o HIV e acendem alerta global; Brasil resiste, mas pode ser afetado
EUA cortam ajuda contra o HIV e acendem alerta global; Brasil resiste, mas pode ser afetado
Foto: (Farmanguinhos/Divulgação)

Nos primeiros meses de seu novo mandato, o presidente Donald Trump ordenou o fechamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), responsável por programas de saúde pública em dezenas de países. A medida atingiu diretamente o combate global ao HIV e gerou preocupação em organismos internacionais e especialistas. Ainda que o Brasil tenha estrutura independente, o impacto do corte pode afetar o país de forma indireta.

A Usaid era o principal braço executor do Pepfar (Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids), programa criado em 2003 que destinou mais de US$ 110 bilhões para ações de combate ao HIV em ao menos 50 países — com foco na África — salvando cerca de 26 milhões de vidas. Embora o Pepfar não tenha sido formalmente encerrado, sua operação foi enfraquecida sem a Usaid. A imprensa internacional já relata dificuldades de distribuição de medicamentos em vários locais.

Um estudo publicado na revista científica The Lancet projeta que a falta de financiamento internacional poderá provocar até 2,9 milhões de mortes relacionadas ao HIV até 2030, além de cerca de 11 milhões de novas infecções nos próximos cinco anos.

Brasil tem produção própria, mas não está imune

Ao contrário de muitos países que dependem da ajuda externa, o Brasil é autossuficiente na produção e distribuição de medicamentos contra o HIV. Graças à Lei nº 9.313/96, pessoas vivendo com HIV têm acesso gratuito ao tratamento pelo SUS, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é responsável pela maior parte da produção nacional.

A farmacêutica pública Farmanguinhos, da Fiocruz, já produz nove medicamentos antirretrovirais, incluindo a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), utilizada como forma de prevenção. Em parceria com multinacionais, o Brasil adquire tecnologias por meio de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), que garantem autonomia para fabricar os remédios internamente.

Apesar da segurança nacional no fornecimento, os impactos indiretos preocupam. “Esses cortes não afetam apenas países que dependem exclusivamente dos EUA. Eles interrompem pesquisas sobre novas terapias e vacinas. Isso prejudica o mundo inteiro, inclusive o Brasil”, alerta Monica Bastos, pesquisadora de antirretrovirais em Farmanguinhos/Fiocruz.

A fundação também estuda a introdução da PrEP injetável — tecnologia mais recente e eficaz, aplicada semestralmente — já aprovada nos EUA, mas ainda em análise no Brasil.

Corte de fundos também ameaça pesquisas

Além da distribuição de medicamentos, o corte de verbas afeta diretamente a pesquisa científica global. O infectologista e professor da UFMG Unaí Tupinambás lembra que Trump também reduziu recursos do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), um dos principais financiadores de estudos sobre HIV.

“Esses cortes comprometem o desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas, além de dificultar o alcance da meta global de eliminação do HIV como problema de saúde pública até 2030”, ressalta o médico.

Tupinambás alerta ainda para o risco sanitário internacional. “O atraso no controle da epidemia nos países mais pobres é uma ameaça à saúde pública global. A pandemia da Covid-19 nos ensinou que vírus não respeitam fronteiras.”

O Brasil se mantém resiliente graças à estrutura pública e políticas de saúde consolidadas. No entanto, o corte da ajuda americana no combate ao HIV representa uma ameaça global, com potenciais repercussões indiretas para o país. A vigilância científica, os investimentos em pesquisa e a colaboração internacional permanecem essenciais para frear o avanço da epidemia e garantir o progresso dos últimos 20 anos.

Compartilhe

Veja também

EUA cortam ajuda contra o HIV e acendem alerta global; Brasil resiste, mas pode ser afetado

Nos primeiros meses de seu novo mandato, o presidente Donald Trump ordenou o fechamento da…

Oposição ocupa mesas da Câmara e do Senado e anuncia obstrução das sessões

Parlamentares bolsonaristas exigem votação de projetos como anistia aos condenados do 8 de janeiro e…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *