Em um cenário global marcado pela crescente demanda por alimentos e pela escassez hídrica, a utilização eficiente dos recursos naturais torna-se um fator crucial para o desenvolvimento regional sustentável. Nesse contexto, um estudo publicado na Revista Aracê (vol. 7, n. 4, 2025) lança luz sobre a importância estratégica dos recursos hídricos no agronegócio da Região Geográfica Intermediária de Patos de Minas (RGInt), com destaque para o município de São Gotardo, um dos principais polos produtores agrícolas de Minas Gerais.
Assinado por Ingrid Lima Oliveira, Gildette Soares Fonseca e Alisson Macendo Amaral, o artigo mostra como a disponibilidade e o aproveitamento da água para irrigação têm transformado a paisagem produtiva do município, inserido na bacia do Alto Paranaíba. São Gotardo integra um seleto grupo de municípios com significativa área irrigada por pivôs centrais, tecnologia que viabiliza cultivos em períodos de estiagem e amplia a produtividade agrícola.
De acordo com o estudo, em 2019, São Gotardo possuía 2.197 hectares irrigados por pivôs centrais, distribuídos em 71 unidades instaladas, consolidando-se como um dos polos agrícolas mais tecnificados da região. Essa infraestrutura tem sido determinante para o fortalecimento da produção de hortaliças, grãos e outras culturas de alto valor agregado. O município destaca-se ainda pela robusta cadeia produtiva de batata, cenoura, café e leite, com influência direta no Produto Interno Bruto (PIB) municipal e no mercado de exportação.
A pesquisa enfatiza que a agricultura irrigada é responsável por mais de 60% da água captada no Brasil, superando inclusive o consumo urbano e industrial. Em São Gotardo, essa realidade é vivenciada com intensidade. O uso racional da água está no centro de debates técnicos e políticos, especialmente diante da intensificação dos conflitos pelo uso dos recursos hídricos, cada vez mais frequentes em Minas Gerais.
Embora o município ainda não tenha sido identificado com áreas oficialmente declaradas como de conflito, o estudo alerta para a pressão crescente sobre as bacias hidrográficas que o abastecem. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) já identificou mais de 60 áreas de conflito em outras cidades da mesma região geográfica, como Paracatu, Unaí e Patrocínio. O risco é iminente: a concentração de pivôs centrais e a expansão da agricultura podem comprometer a disponibilidade hídrica se não houver gestão integrada e sustentável dos recursos.
Outro ponto levantado pelos autores é a relação entre a irrigação e a soberania alimentar, conforme previsto na Lei nº 11.346/2006. A agricultura irrigada, quando bem planejada, é uma das principais alternativas para ampliar a produção de alimentos sem ampliar a fronteira agrícola. Além disso, contribui para a estabilidade de preços, geração de empregos e melhoria da qualidade de vida no meio rural.
O estudo conclui que São Gotardo está inserido em uma conjuntura promissora, mas também desafiadora. O avanço tecnológico e a infraestrutura hídrica existente colocam o município em posição privilegiada no mapa agrícola nacional. No entanto, essa vantagem só será mantida com o fortalecimento de políticas públicas voltadas à gestão da água, incentivo à inovação sustentável, proteção das nascentes e uso consciente dos recursos naturais.
O futuro da produção agrícola de São Gotardo dependerá do equilíbrio entre produtividade, conservação ambiental e equidade no acesso à água. Como reforçam os autores da pesquisa, “é preciso planejar, inovar e respeitar os limites dos ecossistemas para garantir que o agronegócio continue sendo motor do desenvolvimento, sem comprometer as gerações futuras”.