O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesta quarta-feira (11/6) para permitir que redes sociais sejam responsabilizadas por conteúdos publicados por seus usuários, mesmo sem a exigência de ordem judicial prévia. A decisão representa um marco na regulação das plataformas digitais no Brasil e impacta diretamente a interpretação do Marco Civil da Internet, em vigor desde 2014.
Até o momento, seis ministros votaram a favor da responsabilização, cada um com nuances em suas propostas. Os votos contrários à manutenção do atual texto do artigo 19 do Marco Civil da Internet foram proferidos pelos ministros Dias Toffoli, Luiz Fux, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Gilmar Mendes e o presidente do STF, Luís Roberto Barroso. Apenas o ministro André Mendonça divergiu, defendendo a constitucionalidade do artigo em sua forma atual.
O que está em debate
O julgamento gira em torno da possibilidade de que plataformas como Facebook, Instagram, X (antigo Twitter) e outras redes sociais sejam obrigadas a remover conteúdos ofensivos ou criminosos assim que forem notificadas — seja por meio de decisão judicial ou notificação extrajudicial da vítima ou de seu representante.
Atualmente, o artigo 19 do Marco Civil da Internet determina que essas empresas só podem ser responsabilizadas se não retirarem o conteúdo após ordem judicial. Com a nova interpretação proposta pela maioria do STF, essa exigência poderá ser flexibilizada, sobretudo em casos de:
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Discurso de ódio
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Racismo
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Apologia à violência
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Pornografia infantil
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Instigação ao suicídio
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Atos contra o Estado Democrático de Direito
O que disseram os ministros
O ministro Dias Toffoli, relator de um dos recursos, classificou o artigo 19 como inconstitucional e defendeu que plataformas devem agir imediatamente após serem notificadas, mesmo sem decisão judicial, especialmente em casos graves.
O ministro Luiz Fux, relator do segundo processo, seguiu a mesma linha e afirmou que é necessário “responsabilizar os provedores que se omitem diante de conteúdos ilícitos notificados”.
O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, ponderou que em casos de crimes contra a honra (como injúria e difamação), a retirada de conteúdo deve seguir mediante decisão judicial, mas em crimes mais graves, a responsabilidade deve recair sobre as plataformas.
Já o ministro Flávio Dino afirmou que a responsabilização não impede a liberdade de expressão, mas “evita a barbárie e a tirania”.
Impactos
A decisão do STF ainda aguarda a finalização do julgamento e a definição da tese jurídica que será aplicada aos tribunais inferiores. Quando concluído, o entendimento da Corte deverá orientar ações judiciais em todo o país, com potencial para alterar significativamente o funcionamento e a moderação de conteúdo nas redes sociais brasileiras.
A mudança pode gerar novas obrigações para as plataformas, como a criação de canais mais eficientes para denúncias, remoção mais ágil de conteúdos ilícitos e mecanismos de monitoramento preventivo em casos sensíveis.
O debate sobre a liberdade de expressão versus responsabilidade das plataformas promete seguir intenso, mas o Supremo sinaliza que não haverá mais espaço para omissão diante de conteúdos que violem direitos fundamentais ou a legislação brasileira.