Na noite desta quarta-feira (14), moradores de diversas cidades mineiras foram surpreendidos por uma intensa “bola de fogo” que cruzou o céu e chamou atenção pela luminosidade. O fenômeno, inicialmente confundido com um meteoro, foi identificado como lixo espacial — mais especificamente, um estágio do foguete Falcon 9, lançado pela SpaceX em 2014.
A Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon) analisou vídeos e registros do evento e concluiu que o objeto visto percorrendo os céus é o corpo do foguete identificado pelo NORAD como 40108. Ele fazia parte da missão que colocou em órbita o satélite AsiaSat 8, voltado para comunicações na região Ásia-Pacífico. Após cumprir sua função, essa parte do foguete permaneceu em órbita como lixo espacial até reentrar na atmosfera terrestre nesta semana.
Fenômeno foi visto em vários estados
O clarão foi observado em diversas regiões de Minas Gerais, principalmente no Norte do estado, em cidades como Montes Claros, Araçuaí, Jacuri, Capelinha, Minas Novas, Icaraí de Minas e Itamarandiba. Também houve registros no Distrito Federal, Bahia, Goiás e Mato Grosso.
De acordo com a Bramon, o objeto percorreu cerca de 1.500 km em aproximadamente quatro minutos, com velocidade entre 6 e 7 km/s. A luz intensa é resultado do atrito do objeto com a atmosfera, que gera calor extremo, incendeia o material e provoca sua fragmentação em pleno voo.
O que é lixo espacial?
O astrônomo Renato Las Casas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que a baixa velocidade do objeto ajuda a descartar a hipótese de meteoro. “O meteoro vem de muito longe e entra na atmosfera a velocidades muito mais altas. O que vimos foi provavelmente um lixo espacial, que já estava em órbita terrestre”, disse.
Lixo espacial é qualquer objeto de origem humana que perdeu sua utilidade no espaço. Pode incluir desde satélites desativados até ferramentas perdidas por astronautas. Neste caso, tratava-se de uma parte significativa do Falcon 9, o que causou o brilho incomum e duradouro no céu.
Eventos como esse devem se tornar mais comuns
Marcelo De Cicco, cientista planetário e coordenador do projeto EXOSS, alerta que esse tipo de fenômeno pode se tornar cada vez mais frequente. “Com o crescimento no número de lançamentos — impulsionados por empresas privadas como a SpaceX e por países em expansão no setor espacial, como a China — a incidência de reentradas será maior. O Brasil, por sua posição geográfica, está no caminho de muitas dessas trajetórias”, afirmou.
Para ele, é importante que o país invista em monitoramento e educação científica, tanto para a segurança quanto para o aproveitamento dos dados gerados por esses eventos.
O fenômeno, embora inofensivo, gerou grande repercussão nas redes sociais, com vídeos sendo compartilhados por moradores intrigados com o “clarão misterioso”. A Bramon reforça que, apesar do impacto visual, esse tipo de reentrada geralmente ocorre de forma segura, com os fragmentos se desintegrando antes de atingir o solo.