Um estudo acadêmico publicado na revista Gestão & Regionalidade (v.41, 2025) revelou dados surpreendentes sobre a presença maranhense em Minas Gerais — em especial no município de São Gotardo, no Alto Paranaíba. Segundo a pesquisa, quase metade dos moradores da cidade é oriunda do Maranhão, um reflexo de um processo migratório que se intensificou nas últimas décadas e ajudou a moldar a identidade local.
Realizado pelos pesquisadores Ricardo Monteiro de Carvalho (UFRN) e Silvana Nunes de Queiroz (URCA/UFRN), o estudo analisou os fluxos migratórios ligados à Região Metropolitana do Sudoeste Maranhense (RMSM). No entanto, além de examinar o movimento dentro do estado nordestino, a pesquisa também mapeou rotas migratórias de saída — como a que liga o Maranhão ao interior mineiro.
Um novo lar em Minas Gerais
Entre os anos 1990 e 2010, milhares de famílias maranhenses buscaram novos caminhos em cidades como São Gotardo, atraídas por oportunidades no campo, no comércio e nos setores de serviços. O pesquisador Coelho Silva (2015), citado no estudo, aponta que a cidade mineira se tornou um dos principais destinos dessa população, oferecendo possibilidades de trabalho, acolhimento e estrutura para recomeços.
A pesquisa estima que 48,14% da população residente de São Gotardo é formada por maranhenses ou seus descendentes, evidenciando um profundo vínculo entre os dois territórios. Esse intercâmbio humano tem contribuído para o desenvolvimento local e enriquecido a cultura da cidade, com influências que vão da culinária à força de trabalho nas lavouras e no setor de serviços.
Migração como força de transformação positiva
Longe de representar um “deslocamento forçado”, os fluxos migratórios analisados refletem uma busca por dignidade, estabilidade e futuro — direitos universais e legítimos. A migração, nesse contexto, não é um problema, mas sim uma estratégia de vida e crescimento, tanto para quem chega quanto para quem acolhe.
São Gotardo, como muitas cidades do interior brasileiro, soube acolher e crescer junto com os migrantes, incorporando suas tradições e fortalecendo sua economia local. O município é hoje um exemplo de convivência entre diferentes origens e culturas, onde laços de solidariedade e integração se sobrepõem a qualquer diferença regional.
O estudo e suas contribuições
Embora o foco principal do estudo seja a Região Metropolitana do Sudoeste Maranhense, os dados também demonstram como a migração se conecta com outras regiões do país. O levantamento revela que, ao longo do século XX, o Maranhão foi destino de muitos nordestinos — e, posteriormente, tornou-se também ponto de partida para novos destinos como Minas Gerais, São Paulo e Goiás.
Além de São Gotardo, cidades como Caldas Novas (GO) também receberam grande número de maranhenses, criando redes familiares e sociais que facilitaram o processo migratório ao longo dos anos.
Uma história que segue sendo escrita
A relação entre São Gotardo e o Maranhão é uma história de construção coletiva, coragem e esperança. Hoje, ao caminhar pelas ruas da cidade mineira, é possível encontrar essa miscigenação viva nos rostos, sotaques, histórias e sonhos de seus habitantes.
Mais do que números, os dados revelam uma verdade essencial: o Brasil é feito de encontros e movimentos, e é justamente nessas conexões que surgem as maiores riquezas — humanas, culturais e econômicas.
📚 Referência: Carvalho, R. M.; Queiroz, S. N. (2025). Distribuição espacial da população na Região Metropolitana do Sudoeste Maranhense (RMSM): análise a partir das migrações. Gestão & Regionalidade, v. 41, e20258790. DOI: https://doi.org/10.13037/gr.vol41.e20258790