Circula nas redes sociais uma fake news afirmando que o Brasil teria vendido urânio para o Irã, país que está em conflito neste momento com Israel. A informação é falsa e foi oficialmente desmentida pelo governo federal.
O Brasil não vende urânio para fins bélicos e é signatário de diversos tratados internacionais que proíbem a fabricação, o comércio e a transferência de material nuclear para qualquer uso militar.
Todo o urânio produzido no país tem uso pacífico
O urânio brasileiro é extraído de uma mina localizada na Bahia pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), uma empresa pública. Todo o material é processado, enriquecido na unidade da INB em Resende (RJ), e destinado exclusivamente às usinas nucleares de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
As usinas Angra 1 e Angra 2 são responsáveis por aproximadamente 2% da matriz energética brasileira, utilizando o urânio para geração de energia elétrica.
De acordo com a legislação brasileira, todo o ciclo do material nuclear, desde a mineração até o enriquecimento e uso, é de competência exclusiva da União, conforme determina a Constituição Federal. Nenhuma empresa privada tem autorização para explorar, vender ou negociar urânio.
Compromissos internacionais garantem uso pacífico
O Brasil é signatário de acordos internacionais como:
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Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP)
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Tratado de Tlatelolco, que estabelece uma zona livre de armas nucleares na América Latina e no Caribe
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Acordo Quadripartite com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC)
Esses acordos garantem que toda a atividade nuclear brasileira seja voltada exclusivamente para fins pacíficos, sob rígida fiscalização internacional.
Além disso, o Brasil integra o Grupo de Supridores Nucleares (NSG), que estabelece critérios e controles rigorosos sobre qualquer tipo de transferência de tecnologia ou material nuclear sensível.
Não existe venda para o Irã nem para nenhum outro país para fins militares
O governo reforça que não existe, nem nunca existiu, qualquer negociação ou venda de urânio brasileiro para o Irã, nem para qualquer outro país com fins armamentistas. A legislação brasileira é clara ao estabelecer que o comércio, enriquecimento e processamento de material nuclear são monopólio da União, operado exclusivamente pela INB.
Ainda que a legislação permita que a INB preste serviços a entidades nacionais ou estrangeiras para fins pacíficos, não há qualquer operação envolvendo o Irã e todo o urânio produzido no Brasil é utilizado internamente, exclusivamente nas usinas de Angra.
A disseminação dessa fake news já havia ocorrido anteriormente, em 2024, com falsas alegações de venda de urânio para a China — também desmentida oficialmente.
Como funciona o ciclo do urânio no Brasil
O urânio é extraído, triturado e tratado com uma solução ácida que separa o material do minério. O resultado é o chamado “yellowcake”, uma pasta concentrada de urânio natural.
Esse material segue para uma etapa de conversão e enriquecimento, realizada na fábrica da INB em Resende (RJ), onde a concentração de urânio sobe de 0,7% para até 3,65%, percentual necessário para a geração de energia elétrica.
O Brasil não possui nem desenvolve tecnologia para enriquecimento acima desse limite, que seria o necessário para fabricação de armamentos.
Portanto, a informação de que o país teria vendido urânio para o Irã é falsa, sem qualquer base na realidade legal, técnica ou operacional do setor nuclear brasileiro.
Fonte: gov.br